Vi aquela negra nua
Boca vermelha
Brincos argolados
Cabelos armados
Tinha o rosto virado
Envaidecido pela idade
Cor de destaque
Ornando no ambiente pálido
Aparentava entre trinta e trinta e cinco
Não sabia dizer o que fazia
Se examinava ou fitava os transeuntes que passavam
Era estupidamente bela e negra
Toda harmonia nas pontas dos seus seios
Que saltavam aos olhos
E animavam outros pontos
Não era vulgar
Tampouco vaidosa
Era natural
E esse natural transbordava, embriagava, entorpecia todos nós
Aquela negra carregava no ventre um filho
Que não significava retrato de miséria, pois nada pedia
Era o contrário – vida brotando no espaço ondulado do seu corpo
Não pude beijar aqueles lábios
Aprofundar minhas mãos no espaço que em V se finalizava
Aquela negra se respeitava
Como mulher, mãe, criação
Aquela negra poderia ser qualquer outra
Residente de qualquer cidade, estado ou país
O que as tornam irmanadas não são suas afro-descendências
E sim na decência de ser negra e mais nada
Henrique Pires
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
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